Se você já tomou Valeriana, Xanax, clonazepam (rivotril) ou algum outro tipo de benzodiazepínico para acalmar seus nervos ou dormir melhor, provavelmente se sentiu meio tonto no dia seguinte, como se estivesse de ressaca; esse é um dos efeitos colaterais comuns deste tipo de medicamento. Há muito tempo os especialistas defendiam que os efeitos da droga desapareciam imediatamente após o uso, no entanto, um estudo publicado pela revista BMJ sugere que o uso de benzodiazepínicos pode promover o desenvolvimento de demência.

Uma equipe de pesquisadores da França e do Canadá correlacionou o uso dos benzodiazepínicos a um aumento significativo do risco de desenvolver Alzheimer. O estudo demonstrou que quanto maior a dose de benzodiazepínicos, maior será o risco do paciente ser diagnosticado com Alzheimer no futuro. Essa associação não é tão surpreendente quanto pensamos, dados de pesquisas anteriores já afirmavam que o consumo de benzodiazepínicos devia ser feito com cautela. “É muito arriscado prescrever benzodiazepínicos para pessoas mais velhas, pois podem atrasar os processos mentais e causar confusões nos processos de formação do pensamento”, diz o Dr. Anne Fabiny, chefe do setor de geriatria em Harvard. “Embora haja uma associação, ainda não podemos afirmar que as benzodiazepinas realmente causam a doença de Alzheimer”, ele adverte.

A dose, a duração do tratamento e o tipo de droga são importantes
Os pesquisadores se basearam em um banco de dados mantido pelo programa de seguro de saúde de Quebec. A partir dele, eles identificaram cerca de 2.000 homens e mulheres com mais de 66 anos de idade que haviam sido diagnosticados com a doença de Alzheimer. Então selecionaram aleatoriamente mais de 7.000 pessoas sem a doença de Alzheimer, que foram pareados por idade e sexo com aqueles diagnosticados a doença. Uma vez que os grupos foram formados, os pesquisadores analisaram suas prescrições medicamentosas durante os últimos 6 anos que precederam o diagnóstico de Alzheimer.

As pessoas que tomaram algum tipo de benzodiazepínico por três meses ou menos, tinham aproximadamente o mesmo risco de desenvolver demência que aquelas que nunca haviam tomado algum medicamento desse gênero. No entanto, o uso da droga durante três a seis meses aumentou o risco de desenvolver a doença de Alzheimer em 32%, e se a droga continuasse a ser consumida por mais do que 8 meses o risco aumentava em 84%.

O tipo de droga também importa, quanto mais longo for a duração dos efeitos, maior será o risco de desenvolver a doença. Os pesquisadores reconhecem que o uso de benzodiazepinas pode ser apenas uma forma que as pessoas se utilizam para lidar com a ansiedade e a perturbação do sono, os dois sintomas mais comuns da doença de Alzheimer precoce. E se isso for verdade, o uso de benzodiazepínico pode ser um indicador da doença, e não o fator do seu desenvolvimento.

Outras razões para evitar o uso de benzodiazepínicos

Existem outras razões que as pessoas mais velhas deveriam levar em consideração antes de tomar benzodiazepínicos. Em 2012, a American Geriatrics Society acrescentou benzodiazepinas à sua lista de medicamentos inadequados para o tratamento da insônia, agitação, ou delírio. Essa decisão foi tomada principalmente por causa dos efeitos colaterais comuns dos benzodiazepínicos como a confusão mental e a indisposição, pois muitas vezes isso pode levar a consequências desastrosas, incluindo quedas, fraturas e acidentes de automóvel.


Mesmo benzodiazepínicos de curta duração podem causar efeitos nocivos em pessoas mais velhas. Como o metabolismo diminui conforme a idade, as drogas demoram mais tempo para sair do organismo. As benzodiazepinas ficam armazenadas na gordura corporal e por isso podem continuar ativas por vários dias após o uso. Embora estes medicamentos sejam prescritos para ajudar as pessoas a ter uma boa noite de sono, eles podem ter o efeito contrário. “Quando o uso da droga é prolongado, o sono normal é interferido”, diz o Dr. Fabiany. A busca por uma boa noite de sono pode levar à prescrição de doses ainda mais elevadas, ou à prescrição de benzodiazepínicos com efeitos mais duradouros e, por conseguinte, efeitos colaterais mais fortes.

Se você for um cuidador de uma pessoa mais velha, pode conversar com ela ou com o médico dela sobre as implicações do uso prolongado dessa medicação. E se for você quem toma, tenha em mente que essas drogas foram projetadas para o uso de curto prazo. Se você estiver fazendo uso regular da droga, saiba que a abstinência pode ter um efeito desastroso. Considere falar com o seu médico sobre outras alternativas menos prejudiciais. Não há atualmente uma cura ou tratamento para a doença de Alzheimer, isso faz com que a prevenção seja ainda mais importante. Limitar o uso de um benzodiazepínico para ansiedade ou insônia pode ser um pequeno passo em direção à prevenção dessa doença.

Fonte: HealthHarvard